domingo, 27 de dezembro de 2009

NA ENCRUZILHADA DOS CAMINHOS

NA ENCRUZILHADA DOS CAMINHOS
AYRES KOERIG
Imaginem um senhor, idoso, solteirão, num dia de chuva, apoiado em sua bengala, a olhar para um ponto qualquer, relembrando o seu passado, vindo a sua mente o que fez e o que deixou de fazer na sua mocidade. Digo-lhes que o dito cujo trabalhou muito no seu belo emprego angariou bens, amealhou fortuna; porém jamais conseguiu formar um lar e ter filhos -- toda sua ambição -- o seu acabrunhamento com pessoas do sexo oposto, não deixou que se completasse aquilo que tanto desejara.
Como vocês viram pelo preâmbulo que acabo de relatar, nada tem a ver comigo que graças a Deus me realizei, pois tenho uma esposa com quem convivo desde 1946 e quatro filhos aos quais adoro.
Não o conheço e nem o conheci: simplesmente, li esta página do seu diário, feito num caderno, cujas folhas já estavam indelevelmente amarelecidas, pela ação implacável do tempo, que aos poucos tudo destrói.
É somente uma ficção para apresentar o soneto abaixo, composto num dia frio e de chuva. Alguns que o lerem irão gostar, outros, julgar-lhe-ão uma porcaria... Mas como “gosto não se discute”, espero que a maioria ache, não uma obra-prima, mas goste, mesmo que se lhe dêem outras interpretações.
É meu estilo sempre que faço minhas crônicas, recheá-las com alguma poesia, para dar mais ênfase naquilo que se escreve. Em tudo há poesia. Mesmo nas horas amargas da vida há os que choram cantando, com os há aqueles céticos que riem; incluo aqui, os otimistas crentes de que amanhã será um novo dia e que, aquilo que hoje parece insolúvel, no outro dia será resolvido sem trabalho algum. Altos e baixos sempre vamos encontrar nas encruzilhadas dos caminhos que percorremos. A felicidade não é duradoura. Aquele que se contenta com pouco, vai achá-la, mais facilmente. “Quem muito precisa com o pouco se regala”. Para o rico, cem reais significa u’a migalha ínfima; entanto para o pobrezinho, uma fortuna.
Desviei-me um pouco do que pretendia, mas, finalizemos esta pequena crônica.

PÁGINA DE UM DIÁRIO

Oh! Meiga chuva por que não estias
Sem precisar deixar um céu aberto!
Com esta chuva e co’as manhãs tão frias,
Eu sinto que um fantasma está por perto.
Penso e repenso em minhas covardias...
Nunca ataquei e nem banquei o esperto.
Planejava investir todos os dias,
Fazia frente e nada estava certo.
O plano que eu fazia dava errado,
Nunca acertei na mosca uma tacada,
E nem compreendi bem o quem tu eras...
Hoje sozinho triste e acabrunhado,
Só há recordações da era passada,
No meu pobre sepulcro de quimeras!

Nenhum comentário: