quinta-feira, 1 de abril de 2010

HISTÓRIA DE UM CISNE

HISTÓRIA DE UM CISNE

BREVE COMENTÁRIO
Ayres Koerig

Eu comparo o amor, a uma fogueira que acendemos dentro do nosso peito, que para conservá-la com suas labaredas fortes, temos que colocar sempre lenha de diversas qualidades.
No começo, quando surge em nossas vidas, nós acendemos o amor, com palha ou gravetos os quais mantêm as chamas por breve espaço de tempo. Se o quisermos luzente, a lenha tem de ser outra, mais forte como vulgarmente dizemos: o carinho é u’a madeira muito boa para alimentar o amor. Obviamente existem outras que se mesclam ao carinho, para que esta fogueira entre mim e ela, fique sem se apagar, tais como: compreensão, meiguice, fidelidade, direitos iguais e muitas outras que, quem agora me está lendo, possa completar o rol que comecei.
Jamais deve haver livre-arbítrio... o machismo (no homem) e o egoísmo (na mulher) devem ser postos de lado; a compreensão faz reconhecer nossas falhas: quem não as tem? A fogueira bem alimentada faz descobrirmos em nossa(o) amada(o), os sentimentos nobres que, todos possuímos em estado latente.
Foi baseado nessas coisas que me veio a mente a:

HISTÓRIA DE UM CISNE

Há pessoas que acreditam nos desígnios da nossa vida – um grande erro. O que acontecem, muitas vezes, são coincidências de fatos; digamos também, fatalidades que se nos apresentam em nosso dia-a-dia. Nós não viemos à terra, afim de cumprir tarefas preconcebidas, as quais, muita gente chamam-nas de destino. Se assim fosse, onde estaria o nosso livre-arbítrio? Esta coisa que fazemos como e quando queremos: se agimos bem, a sociedade nos elogia e caso contrário, ela nos repreende. Parece até que essa liberdade de agir é extensiva a todos os seres vivos, que se locomovem sobre a face da terra. P. ex.: um leão que nasceu nas savanas da África, pode, se for sua vontade, emigrar para qualquer parte do globo terrestre, quando o modo de vida no seu habitat, não condiga com suas necessidades ou com o que ele deseja.
Foi justamente, o que se deu com um cisne de plumagem branca e pescoço negro-aveludado que deixou suas origens na Patagônia. Distanciando-se do bando migratório, fez um pouso de emergência na Lagoa dos Patos, por se ter cansado ao longo do caminho. Muito novo não teve forças para agüentar a revoada dos irmãos e parentes, em busca de lugares quentes para hibernar e, fez um pouso forçado em um dos recantos dessa Lagoa. O fator sorte não o acolheu: Um caçador furtivo escondido dentro de uma negaça, mirou-lhe de frente a cabeça e chumbos da munição do perverso furaram seus dois olhos. Instantaneamente mergulhou e guiado apenas pelo instinto só emergiu,
quando, calculou estar fora do alcance de um projétil balístico.
Naquele resto de dia e durante a noite, pensou em morrer; talvez que o desaparecimento da sua vida fosse a maior solução para o seu
penar. Nos primeiros doze dias de sua desventura passou muita fome, alimentando-se somente da água da própria lagoa. Resolveu soltar a língua para ver se havia possibilidade de comunicação com alguém, mesmo que de outra espécie. Começou por c’ué, c’ué-c’ué, c’ué-c’ué-c’ué.
No outro dia já ao amanhecer, novamente sem que ninguém o ouvisse, repetiu a dose: ninguém o escutou.
Resolveu então mudar de estratégia e na voz dos anatídios(família dos cisnes) cantou:
Alguém que possa ouvir o meu cantar,
Preste atenção na voz deste poeta,
Que é cego e não consegue sua meta,
A de viver e ser feliz: sonhar!
Muito ao longe uma pata velha, também versejadora ouviu o seu clamor e respondeu:
Ó tu que até pareces com meu filho,
Vai respondendo o que te aflige tanto;
Quero enxugar também este teu pranto,
E a estes olhos te vou dar mais brilho.
Ele então nadando em direção à voz da pata, cantou-lhe ainda mais esta quadrinha:
Se podes chega a mim e me auxilia.
Faz muito tempo que eu não como nada...
Chega-te a mim ó minha bela fada;
Sê minha protetora dia-a-dia.

Ao que com todo o carinho ela respondeu:

Estou nadando em tua direção;
Aguarda que eu já estou chegando perto;
Conta tua história e deixa o peito aberto,
Pretendo e quero dar-te sempre a mão.

Assim depois de se abraçarem e se beijarem no estilo deles, ele contou a história do seu infortúnio.
Ela revelou a ele que, para cumprir o que sua mãe lhe ensinara, nunca pescou nem procurou alimentos muito preto das margens da lagoa, mesmo que, nesses lugares, eles fossem mais fáceis de serem encontrados... e arrematou:-- De hoje em diante eu serei os teus olhos; enquanto eu existir, vou servir-te de guia.
Emocionado por tanta bondade, duas lágrimas caíram dos olhos do jovem cisne...
Daquele dia em diante, os dois, cisne e pata, além do gesto altruístico praticado por ela, foi por parte dela, que se fez uma declaração de amor.
-- Podemos também viver maritalmente: tu és jovem, belo e forte;
tua concepção pode enxergar em mim, uma companheira esbelta e nova, o que eu não sou, mas, no teu cérebro, imagina como se eu o fosse. Vamos nos mudar para um recanto mais seguro desta lagoa, criar filhos
para que me substituam após minha morte, naquilo que farei de agora em diante por ti. Vamos viver acasalados.
Não é preciso anotar que esta declaração foi em todo o seu conteúdo, aceita pelo jovem, porque de fato, daquele dia em diante ela tornou-se para ele mãe: pequenos peixes e algas eram todos os dias levados à sua boca. Na sua noite da cegueira, ela se havia tornado uma companheira mansa como a caridade e suave como o perdão. Eram amigos: viviam sempre juntos conversando; como esposos, o casal foi responsável por algumas ninhadas, que se transformaram nos hoje famosos cisnes-negros.
-- Pouco antes da morte de sua mãe, amiga e esposa, ele recitou para ela este soneto em alexandrinos, feito em sua homenagem, intitulado:
GRATIDÃO
Oh! tu que me trouxeste novamente a vista,
E co’ela este prazer de me sentir feliz,
Me deste a dita de ser o que sempre quis,
Ser pai de tantos jovens eis minha conquista.

Embora nossos filhos formem raça mista,
Mas cantam bem melhor do que qualquer concris...
Não sou só eu quem diga, o céu também o diz;
Mesmo que na minh’alma habite um saudosista!

Quero trazer-te aqui com meu contentamento
Hoje que nossas almas já estão mais idosas,
Não posso te ocultar meu reconhecimento

Caem dos meus olhos lágrimas tão preciosas...
Vamos pois exaltar este grande momento:
Recebe então querida este “buquê” de rosas!

A história em questão tem muito a ver com a introdução acima; quantas pessoas há, que nascem na extrema miséria, e se criam passando fome, não tendo um minuto sequer de felicidade; mas, ajudadas por outras, têm vidas descente e momentos felizes. Nossa imaginação, mais a sabedoria que possuímos ficam muito aquém dos desígnios de Deus. O Livro da Sabedoria, na Bíblia, nos relata que elas, em vista disso, terão no após morte, conquistado grandes favores e reinarão sobre as nações.

2 comentários:

Mada disse...

Bravooo!
Que estória maravilhosa
E encantadora!

É... Às vezes poeta
Não se consegue a meta!
Mas aí aparece um anjo
Para nos guiar, amar
E nos ajudar!

Bj

Lilá(s) disse...

Mas que história linda! fiquei até emocionada.
Bjs