sábado, 27 de fevereiro de 2010

ENCONTROS

ENCONTROS
AYRES KOERIG


Encontrei-me com meus primeiros livros escolares, nas barreiras do meu aprendizado;
Encontrei-me com a bolinha de gude e o pião, jogados por mim com maestria, nas folganças da vida de menino, nas encruzilhadas silenciosas e angustiantes das reminiscências;
Encontrei-me com a minha querida primeira professora (dona Budica como carinhosamente a chamávamos), nas viagens que imaginariamente fazia e ainda faço, nas noites que direito não posso conciliar meu sono;
Encontrei-me com a primeira namoradinha, que trazia à tiracolo, na sacola do amor, o nosso primeiro beijo, dado lá na choupana dos tempos;
Encontrei-me com meus colegas de formatura, uns alquebrados pelo peso dos muitos anos, outros, fazendo-se representar pelas sombras do passado, nos bosques floridos das nossas existências;
Encontrei-me com meu primeiro dia de trabalho, no Grupo Escolar Lebom Regis, de Campo Alegre, lá na superfície, bem no começo mesmo, da década de quarenta, ao consultar os meus alfarrábios;
Encontrei-me com a conversa entre amigos e companheiros (causos, contos e piadas), jogados fora, na mesa dos bares;
Encontrei-me com as serenatas feitas nas noites de luar, para deleitar as nossas bem-amadas, nas janelas de suas casas, quando meu neto dedilhou uma canção para eu ouvir, nas cordas do seu violão;
Encontrei-me com meus pais (que já fazem parte da família celestial), seu Henrique Estefano e dona Ana Amália (a dona Aninha, como todos a conheciam), lá em nossa casa, na Rua das Olarias como era chamada antigamente e hoje com o nome do bravo Capitão Augusto Vidal, o qual conheci pessoalmente na década de vinte, como remanescente da Guerra do Paraguai;
Encontrei-me (e me encontro todos os dias) com alguém que aqui em Araranguá, quis comigo, construir um lar;
Encontrei-me ainda, com minhas três filhas e um filho, por ocasião dos seus respectivos nascimentos, dois deles, em nossa casa nesta cidade e dois, no Hospital São Sebastião da vizinha Cidade de Turvo;
Enfim, encontrei-me e continuo sempre a me encontrar, todos os dias, com a saudade de todas essas singelas coisas, que nos dizem e refletem muito, nas taças de café bebidas às pressas!

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